COM APOIO DA BASE BOLSONARISTA, CPI PARA INVESTIGAR TV CULTURA É PROTOCOLADA NA ALESP

OG – 18.4.24

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a TV Cultura foi protocolada nesta quinta-feira na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

A iniciativa vem do vice-líder do governo Tarcísio na Alesp, Guto Zacarias (União), sucessor do ex-deputado Arthur do Val como liderança do Movimento Brasil Livre (MBL) no Parlamento paulista.

Oficialmente, a CPI investigará a Fundação Padre Anchieta, fundação vinculada ao estado de São Paulo e proprietária e gestora da TV Cultura. O projeto para criar a comissão teve apoio de 35 dos 94 deputados estaduais — o regulamento exige assinatura de ao menos um terço dos membros da Casa para instalação desse tipo de colegiado.

Zacarias diz que a ofensiva contra a instituição foi motivada por denúncias de irregularidades em sua gestão, especialmente na eleição dos membros do Conselho Curador. E que não está fazendo uma “briga ideológica” contra o jornalismo e a linha editorial da TV Cultura.

— O que a gente quer investigar é uma eleição com fartas denúncias de que foi fraudulenta, fartas denúncias de nepotismo na Fundação Padrancheta, fartas denúncias de contratação PJ completamente sem transparência e também malversação do dinheiro público. A gente tem, sim, um excesso de gastos e um inchaço na folha de pagamento da Fundação Padrancheta, que poderia ser melhor gasto — declara o deputado.

A relatoria da comissão deve ficar com o deputado Altair Moraes, do mesmo partido do governador, o Republicanos. A CPI foi protocolada com assinatura de dezenas de membros da base governista, como Gil Diniz (PL), Tomé Abduch (Republicanos), Major Mecca (PL), Bruno Zambelli (PL) e Delegado Olim (PP).

Aliados de Zacarias dizem que ele recebeu sinal verde do governo Tarcísio para seguir em frente com a CPI, e que “não houve resistência”. A TV Cultura é vista com ressalvas entre secretários de Tarcísio de Freitas. Eles avaliam que o jornalismo da emissora deveria cobrir melhor as agendas do governo, por exemplo, por ser vinculada ao estado.

O cisma vem desde o começo de 2023. Em abril do ano passado, O GLOBO revelou que a TV Cultura apagou de sua conta no YouTube um documentário crítico à extrema direita após pressão do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) e de seus aliados.

Intitulado “O Autoritarismo está no ar — 3 anos depois”, o programa produzido pela emissora era uma atualização de um documentário sobre os riscos democráticos com o avanço da extrema direita no Brasil e no mundo, veiculado em 2020. A nova versão incluía o levante golpista de 8 de janeiro, quando apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro depredaram prédios dos Três Poderes.

A transmissão do programa, em 23 de março, irritou bolsonaristas. Eduardo levou a queixa a Tarcísio — ex-ministro da Infraestrutura de seu pai —, segundo relataram dois aliados do deputado.

Eduardo teria argumentado que o governo do PT jamais permitiria que a EBC, empresa de comunicação federal, transmitisse um documentário crítico ao MST, movimento social de trabalhadores sem-terra e próximo do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dias depois, a TV Cultura suspendeu a re-exibição do documentário, que deveria ser feita na primeira semana de abril, de acordo com um jornalista da emissora. O funcionário classificou a decisão como “censura clara” e afirmou que a retirada do vídeo das redes sociais é uma prática “nada comum”. Um dia após a publicação da reportagem do GLOBO, o vídeo voltou ao ar.

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