CHEFE DA INTELIGÊNCIA MILITAR DE ISRAEL RENUNCIA E ASSUME RESPONSABILIDADE POR ATAQUE QUE DESENCADEOU GUERRA

OG – 23.4.24

O chefe do serviço de Inteligência Militar israelense, o general Aharon Haliva, renunciou nesta segunda-feira por sua “responsabilidade” pelas falhas que precederam ao ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1,2 mil mortos e quase outras 240 pessoas como reféns. Haliva entrará para a reserva após a nomeação de seu sucessor, tornando-se a primeira autoridade graduada no âmbito militar e de segurança a deixar o cargo após o atentado sem precedentes do grupo.

Pouco depois, o chefe do Comando Central, o major-general Yehuda Fox, anunciou ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas que renunciará ao cargo em agosto, informou o jornal israelense Haaretz. O militar de 55 anos encerrará seu mandato de três anos como general encarregado da Cisjordânia ocupada, pondo fim a uma carreira militar de 36 anos. Sua renúncia não tem ligação com o general Haliva, pontuou o jornal israelense Times of Israel, e a decisão não é recente.

O general enviou uma carta ao tenente-general Herzi Halevi — chefe do Estado-Maior do Exército e que no domingo aprovou “as próximas etapas da guerra”, segundo o porta-voz Daniel Hagari — dizendo que gostaria de deixar as Forças Armadas. No documento, ele assumiu a “responsabilidade” pelos fracassos na segurança que permitiram a invasão do sul israelense e afirmou que carregará para “sempre a terrível dor da guerra”.

“A divisão de Inteligência sob meu comando não esteve à altura da tarefa que nos foi confiada. Carrego aquele dia comigo desde então”, acrescentou. O general pediu ainda a criação e implementação de um comitê de investigação para apurar “os fatores e circunstâncias” que levaram ao ataque.

Em um comunicado, o Exército afirmou que Haliva deixará sua posição e as Forças Armadas após a nomeação de seu sucessor, embora não tenha ficado claro quanto tempo levará. De acordo com o Haaretz, o general desejava ter apresentado sua renúncia antes, mas a aposentadoria repentina do chefe da divisão de pesquisa da Inteligência Militar, o general de brigada Amit Saar, diagnosticado com um tumor maligno, atrasou o anúncio.

Símbolo do fracasso

Haliva tornou-se o símbolo do fracasso do establishment israelense em evitar o ataque mais mortal da história de Israel, e seu afastamento ocorre no âmbito das investigações internas realizadas, segundo o Times of Israel, desde março por algumas unidades das Forças Armadas, consideradas responsáveis por não terem detectado os preparativos do Hamas para a invasão ou por não terem se preparado adequadamente.

Desde o 7 de outubro, os israelenses ficaram sabendo de uma série de falhas militares e de inteligência que desestabilizaram sua sensação de segurança e abalaram a confiança em seus líderes. Poucos dias após o ataque, o próprio chefe do Shin Bet, Ronen Bar, assumiu a responsabilidade por falhas na segurança interna. Uma das mais significativas foi a avaliação de muitas autoridades da área de segurança de que o Hamas não se preparava para uma grande ação.

Outro passo em falso foi o fato de Israel ter uma cópia do plano de batalha do grupo para o ataque outubro com mais de um ano de antecedência, mas ter determinado que uma ofensiva daquela escala e ambição não passava de uma aspiração, considerando-o demasiado difícil de ser executado, de acordo com documentos e autoridades. O alerta de uma analista veterana de uma agência de Inteligência — sobre um treinamento intenso conduzido pelo Hamas, que em muito se assemelhava ao descrito no projeto — também foi ignorado.

Nesse contexto, o líder da oposição ao governo israelense, Yair Lapid, pediu que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu seguisse o exemplo do general. Em uma publicação no X (antigo Twitter), o opositor elogiou a decisão “justificada e honrosa” tomada por Haliva e sugeriu que seria “apropriado” que o premier “fizesse o mesmo”. Internamente, Netanyahu tem sofrido uma pressão devido à dificuldade em alcançar um acordo para a libertação dos sequestrados que ainda permanecem no enclave palestino, enquanto milhares de manifestantes tomaram as ruas no fim do mês passado para pedir a realização de novas eleições no Parlamento e sua destituição.

No dia 7 de outubro, um ataque por terra, mar e ar pegou os israelenses de surpresa. A ofensiva coordenou em larga escala uma chuva de mais de 2.500 foguetes, enquanto cerca de 3 mil combatentes do Hamas furaram as defesas e invadiram o sul do território israelense. Em resposta, Israel prometeu aniquilar o grupo, que controla a Faixa de Gaza desde 2007. Desde então, lançou uma campanha por ar e terra que já deixou mais de 34 mil mortos no enclave, a maior parte sendo mulheres e menores, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

A movimentação interna no governo israelense e a ofensiva do Exército em Gaza correram em paralelo à preparação para a Páscoa judaica, o Pessach, que tem início nesta segunda-feira. A festa, que comemora a libertação dos hebreus da escravidão do antigo Egito, é uma das mais importantes do calendário judaico, mas, segundo o porta-voz do Exército, marca “200 dias de cativeiro para os reféns” que ainda permanecem no enclave.

Na véspera, Netanyahu prometeu infligir “mais golpes duros” ao Hamas. “Nos próximos dias, vamos aumentar a pressão militar e política sobre o Hamas, pois é a única maneira de libertar os nossos reféns e alcançar a vitória”, declarou em vídeo. O premier mantém a determinação de iniciar uma ofensiva terrestre em Rafah, no extremo sul de Gaza, onde estão aglomeradas 1,5 milhão de pessoas, a maioria deslocados pela guerra e pelas sucessivas ordens de deslocamento do Exército.

Segundo o jornal americano Wall Street Journal, as forças israelense se preparam para deslocar os palestinos abrigados na região, e fontes egípcias citadas pelo jornal afirmaram que as primeiras duas ou três semanas da operação se concentrarão nesta tarefa, que será tocada em coordenação com os EUA, o Egito e países árabes. As fontes disseram ainda acreditar que os combates devem durar pelo menos um mês e meio. (Com AFP e NYT)

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