É PRECISO, SIM, POLITIZAR A TRAGÉDIA CLIMÁTICA

OG – 8.5.24 – BERNARDO MELLO FRANCO

Não é hora de procurar culpados. Não se deve politizar a tragédia. Os chavões se repetem desde o início das enchentes no Rio Grande do Sul. Ajudam a encobrir erros, diluir responsabilidades, proteger quem se omitiu.

Escolhas políticas estão na origem da emergência climática. Autoridades que negam a crise ajudam a agravá-la. Governantes que não investem em prevenção contribuem para ampliar os desastres.

O prefeito de Porto Alegre não aplicou um centavo no sistema contra enchentes em 2023. Sem manutenção, diques e comportas entraram em colapso. A água invadiu o centro histórico, tomou as ruas, deixou bairros submersos.

No domingo, Sebastião Melo orientou os donos de casas de praia a se refugiarem no litoral. A sugestão não contemplou as famílias mais pobres, condenadas a buscar abrigos e entrar nas filas de doações.

O governador gaúcho patrocinou o desmonte da legislação ambiental do estado. Aprovadas em 2019, as mudanças afrouxaram as regras de licenciamento, liberaram o corte de árvores nativas, reduziram a proteção de rios e nascentes.

Há menos de um mês, Eduardo Leite sancionou outra lei que permitiu a construção de barragens para o agronegócio em áreas de proteção permanente. Agora ele dá entrevistas de colete da Defesa Civil e pede um “Plano Marshall” para recuperar o que foi destruído.

O descaso com os riscos climáticos se estende à bancada federal do Rio Grande do Sul. Dos 34 congressistas gaúchos, só uma deputada destinou emendas para a prevenção de desastres este ano. O campeão de votos no estado pertence à bancada ruralista.

O momento é de resgatar e acolher as vítimas, mas medidas emergenciais não evitarão novos eventos extremos. As saídas, como sempre, dependem da política. E o discurso de não buscar culpados só ajuda a protegê-los.

Hoje os senadores devem votar um projeto que reduz de 80% para 50% a reserva legal na Amazônia. Se a boiada passar, os proprietários de terras poderão derrubar mais áreas de floresta. É uma receita certa para encomendar novas tragédias.

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